JORNAL ADUFSCar | Cem anos do livro Pau Brasil de Oswald De Andrade

JORNAL ADUFSCar | Cem anos do livro Pau Brasil de Oswald De Andrade

O professor Wilson Alves-Bezerra, docente no Departamento de Letras, é um dos colaboradores do Jornal da ADUFSCar. Na 12° edição do informativo, a coluna “Leia Também” nos chama para a leitura da seleção de poemas do livro Pau Brasil, do poeta Oswald de Andrade, afim de celebrar o centenário de uma das obras mais importantes do modernismo paulista. A capa é a célebre paródia da bandeira brasileira, realizada por Tarsila do Amaral, que também ilustrou o livro.

PERO VAZ CAMINHA

A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo

Até a oitava da Páscoa

Topamos aves

E houvemos vista de terra Os selvagens

Mostraram-lhes uma galinha

Quase haviam medo dela

E não queriam pôr a mão

E depois a tomaram como espantados

Primeiro chá

Depois de dançarem

Diogo Dias

Fez o salto real

As meninas da gare

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis

Com cabelos mui pretos pelas espáduas

E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas

Que de nós as muito bem olharmos

Não tínhamos nenhuma vergonha

J.M.P.S

(da cidade do porto)

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio

Para melhor dizem mió

Para pior pió

Para telha dizem têia

Para telhado dizem teado

E vão fazendo telhados

POEMAS DA COLONIZAÇÃO

[Seleção] […]

NEGRO FUGIDO

O Jerônimo estava numa outra fazenda

Socando pilão na cozinha

Entraram Grudaram nele

O pilão tombou

Ele tropeçou

E caiu montaram nele

O RECRUTA

O noivo da moça

Foi para a guerra

E prometeu se morresse

Vir escutar ela tocar piano

Mas ficou para sempre no Paraguai.

[…]

O MEDROSO

A assombração apagou a candeia

Depois no escuro veio com a mão

Pertinho dele

Ver se o coração ainda batia

CENA

O canivete voou

E o negro comprado na cadeia

Estatelou de costas

E bateu coa cabeça na pedra

O CAPOEIRA

– Qué apanhá sordado?

– O quê?

– Qué apanhá?

Pernas e cabeça na calçada

MEDO DA SENHORA

A escrava pegou a filhinha nascida

Nas costas

E se atirou no Paraíba

Para que a criança não fosse judiada

LEVANTE

Contam que houve uma porção de enforcados

E as caveiras espetadas nos postes

Da fazenda desabitada

Miavam da noite No vento do mato

A ROÇA

Os cem negros da fazenda comiam feijão

Abóbora chicória e cambuquira

Pegavam uma roda de carro

Nos braços

AZORRAGUE

– Chega! Perdoa!

Amarrados na escada

A chibata preparava os cortes

Para a salmoura

RELICÁRIO

No baile da Corte

Foi o Conde d'

Eu quem disse

Pra Dona Benvinda

Que farinha de Suruí

Pinga de Parati

Fumo de Baependi

Ê comê bebê pitá e caí

SENHOR FEUDAL

Se Pedro Segundo

Vier aqui

Com história

Eu boto ele na cadeia

 

 

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