CONFIRA | 12° edição do jornal ADUFSCar traz matéria especial sobre crescimento de HIV em idosos

CONFIRA | 12° edição do jornal ADUFSCar traz matéria especial sobre crescimento de HIV em idosos

Ministério da Saúde aponta: casos de HIV entre idosos estão crescendo

Dados do Boletim Epidemiológico sobre HIV/AIDS do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2021, apontam que o número de idosos que testaram positivo para o vírus teve um aumento de 400% em 10 anos. Em 2012, foram 378 pessoas com 60 anos ou mais infectadas. Em 2022, esse número subiu para 1.951. Os números podem ser ainda maiores, já que é grande a subnotificação por falta de testagem.

Quando vemos uma campanha sobre HIV, não costumamos relacioná-la à imagem de pessoas mais velhas. Compreender esse crescimento expressivo de casos perpassa por questões como o aumento da expectativa de vida e da atividade sexual desse público, negligência quanto às medidas preventivas, além da falta de campanhas direcionadas. De acordo com o dr. Leonardo Pozzi Marques Novo, especialista em sexologia clínica e médico do Centro de Atendimento de Infecções Crônicas (CAIC) em São Carlos, o Brasil é referência mundial no acesso gratuito ao tratamento do HIV, entretanto, as campanhas de conscientização ainda enfrentam entraves que reduzem sua força e visibilidade. “A prevenção combinada — que inclui o uso de preservativos, a testagem regular, a PEP (profilaxia pós-exposição, em inglês), a PrEP (profilaxia pré-exposição, em inglês), entre outras estratégias — está disponível no SUS, mas ainda é subutilizada por falta de informação ou pelo estigma que cerca o tema”, avalia.

ESTIGMA E DESINFORMAÇÃO

Segundo dados do Ministério da Saúde, 35% dos diagnósticos entre idosos ocorrem em estágios avançados, fator que resulta na busca tardia por testagem e tratamento. O preconceito também é um problema presente e que, na população idosa, pode ser ainda mais profundo. Para o médico do CAIC, falta informação sobre a prevenção combinada, o conceito de indetectável = intransmissível e também direitos de pessoas vivendo com HIV – como o sigilo do diagnóstico e o fato de que o tratamento é 100% gratuito pelo SUS –. Segundo ele, são inúmeros os pacientes que perguntam o valor dos medicamentos anti-HIV.

EVOLUÇÃO NO TRATAMENTO E QUALIDADE DE VIDA

Desde os anos 80 – época em que se teve o primeiro registro no Brasil da infecção – até os dias atuais, houve muita mudança e evolução quando o assunto é HIV. “Naquela época, o diagnóstico era praticamente uma sentença de morte. Com o tempo, o desenvolvimento dos medicamentos antirretrovirais revolucionou o tratamento, transformando o HIV em uma condição crônica tratável. Hoje, com adesão adequada, é possível alcançar carga viral indetectável, o que representa não apenas qualidade de vida, mas também a interrupção da cadeia de transmissão — o chamado “indetectável = intransmissível” (I=I). A comunidade científica também defende a ideia de I=0, ou seja, indetectável = zero chance de transmissão do HIV por qualquer via sexual. Essa evolução tem um impacto profundo: com acompanhamento adequado, uma pessoa que vive com HIV pode ter uma vida longa, saudável e sem limitações”, explica o médico. O dr. Leonardo ressalta que os avanços continuam acontecendo e cita como exemplos os medicamentos de ação prolongada, como as injeções mensais ou bimestrais, que ainda estão em fase de incorporação no SUS, mas já são realidade em outros países. “No Brasil, a combinação de antirretrovirais em um único comprimido diário (o chamado 3 em 1) já representa um grande avanço. O principal ponto dessas terapias é melhorar a adesão e, assim, melhorar a eficácia do tratamento. Os tratamentos disponíveis hoje, diferentemente dos primeiros tratamentos que surgiram na década de 90, são extremamente seguros e com poucos efeitos colaterais. A tendência é que o tratamento se torne cada vez mais prático e personalizado, e a expectativa é que os medicamentos injetáveis estejam disponíveis em breve para o público brasileiro, inclusive na rede pública”, comenta.

UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA

A desinformação perpetua mitos e preconceitos — não apenas na população em geral, mas também entre profissionais da saúde, tanto na rede pública quanto na privada. Infelizmente, ainda são comuns os relatos de pacientes que vivem com HIV e dizem ter sido destratados ou culpabilizados pelo seu diagnóst ico. Para o dr. Leonardo, é preciso construir uma sociedade que acolhe, informa e cuida sem julgamentos. “Quando falamos em saúde sexual, o tema ainda é cercado por tabus, moralismos e desinformação. O sexo muitas vezes é tratado como algo “sujo”, por meio do qual nos “contaminamos” com uma IST. Precisamos falar mais sobre saúde sexual — o que inclui, mas não se limita, à prevenção e ao tratamento de infecções como o HIV. Acredito que é fundamental naturalizar esse tema, para que a saúde sexual seja tratada com a mesma naturalidade com que falamos sobre hipertensão ou diabetes. Falar sobre HIV é falar sobre saúde pública, direitos humanos e dignidade”, afirma.

LANÇAMENTO DE LIVRO

O impacto da epidemia de HIV/Aids nos estudos sobre homossexualidade e envelhecimento

O pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), João Paulo Ferreira da Silva Gugliott i, lançou recentemente pela EdUFSCar, o livro “AIDS e envelhecimento homossexual – Representações gerontológicas e a linguagem da patologia”. A publicação aborda a representação da homossexualidade nos últimos 40 anos pelas áreas da ciência que estudam o processo de envelhecimento humano (biogerontologia). Em entrevista ao Jornal ADUFSCar, o autor explicou o que é a “linguagem da patologia”. “A “linguagem da patologia” é, grosso modo, os termos e jargões produzidos pela ciência para tratar da homossexualidade. Por exemplo, até o início da década de 1970, a homossexualidade era tratada como um “distúrbio mental”. A linguagem médica e psiquiátrica, nesse momento, incorporava termos como transtornos, distúrbios, desvio, reversão, etc. Após a década de 1980, a linguagem médica da homossexualidade muda, e passa a incorporar termos como risco, transmissão, contágio, infecção, vírus, imunodeficiência, etc.

Segundo ele, foi revelador perceber como nem sempre políticas de inclusão são revertidas positivamente para os sujeitos. “Quando a ciência deixa de conceber a homossexualidade como distúrbio mental e, se esperava, passaria a tratar de questões importantes de saúde mental e cuidado, a medicina e a epidemiologia incluem a homossexualidade no hall de doenças infecciosas transmitidas sexualmente. Isso levou a novas formas de estigma e preconceito que eram parte integrante de estratégias de inclusão em protocolos clínicos e terapêuticos. A ciência pode incluir grupos sociais estigmatizados em suas pesquisas para estigmatizá-los ainda mais. A história da AIDS e da biogerontologia, em particular, nos mostrou isso”, afirma o pesquisador. A publicação tem 346 páginas e pode ser comprada pelo site da EdUFSCar.

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